sábado, 8 de maio de 2010

O Brasil que a mídia nativa não mostra



Diário de Pernambuco

Mãos de homens e mulheres. Pernambucanos, cariocas, paranaenses, catarinenses, baianos e de tantos outros estados brasileiros se orgulhavam ontem de ter lançado ao mar o primeiro navio construído em Pernambuco.
Trabalhadores de Pernambuco e outros estados do país ajudaram a construir o navio João Cândido e assistiram ao seu batismo, muitos orgulhosos .Fotos: Teresa Maia/DP/D.A Press
São operários do Estaleiro Atlântico Sul (EAS) que colocaram a mão na massa durante um ano e oito meses para ver o primogênito João Cândido aparecer imponente no Porto de Suape. Juntos eles somam 3.700 trabalhadores entre os que ergueram a planta do estaleiro e aqueles que juntaram os blocos de aço para a construção do petroleiro Suezmax. Até dezembro a expectativa do EAS é absorver a mão de obra de 4 mil pessoas para dar conta das próximas encomendas da Transpetro, subsidiária da Petrobras.

Do Japão direto para Pernambuco. São dekasseguis - brasileiros descendentes de japoneses - que deixaram o país em busca de oportunidades de emprego e agora fazem o caminho de volta. No EAS eles são 170 operários. Entre eles, o soldador Roberto Hirata, paranaense, 44 anos, quese mudou com a família para Pernambuco para trabalhar no estaleiro. Ele desembarcou em Suape em janeiro deste ano e se juntou ao grupo que montou as peças finais do navio. "Hoje me sinto feliz de fazer parte dessa história. Pretendo ficar aqui e fazer carreira", diz orgulhoso. Ele trabalhava num estaleiro no Japão, mas ficou desempregado, vítima da crise econômica mundial.


Hirata veio do Japão expulso pela crise e quer fazer carreira no EAS.
Com experiência de mais de dez anos na indústria naval, o carioca Roney Pisto da Silva, 37 anos, ocupa o cargo de encarregado de produção do EAS. Ele trabalhou durante dez anos no estaleiro Ishibras no Rio de Janeiro. Em junho de 2009 foi convidado para reforçar o time que trabalhava turnos intensivos de vinte e quatro horas, para agilizar a conclusão do navio. Trouxe know how para os operários pernambucanos marinheiros de primeira viagem nesse tipo de construção. "Me sinto realizado. É uma emoção grande ajudar Pernambuco a construir esse navio", resume. Roney pretende fincar os pés por aqui para construir o futuro com a família.

Bons de briga, os trabalhadores pernambucanos não se acomodaram. Foram à luta para garantir os novos empregos no estaleiro. Quando ouviu falar das oportunidades em Suape, Arigonaldo Pereira da Silva, 47 anos, se inscreveu no programa Travessia para concluir o segundo grau e se candidatar a uma vaga. Casado, pai de dois filhos, ele estava desempregado há cinco anos e fazia bicos para sobreviver. Hoje trabalha como operador de andaime no EAS. Ele não se conteve ao ver o navio João Cândido pronto para entrar no mar: "Eu não tenho palavras para dizer o que estou sentindo. É muita emoção participar da construção desse navio com os outros operários".

O soldador Davi Ferreira mora no Cabo de Santo Agostinho, tem 21 anos, segundo grau completo, teve a carteira assinada no EAS em 2008. Ontem, espremido no auditório lotado de operários de todas as idades, ele comemorava em grande estilo a oportunidade do primeiro emprego: "É uma grande emoção ter conseguido trabalhar na construção de um navio".

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