quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dilma abre 10 pontos no Sensus; quais sáo os cenários possíveis na campanha?



Amigos blogueiros, como Eduardo Guimarães, acham que eu sou cauteloso demais. Não sei se é a ascendência mineira que me deixou assim, ou a experiência sofredora de corinthiano. A verdade é que não gosto de “já-ganhou”.

Esse é o clima que parece tomar conta da campanha de Dilma (não falo da candidata e do núcleo dirigente, mas de parte da militância mesmo). Foi o que me relatou um amigo com muitos contatos na área sindical: “Dia desses fui ao ABC e a expectativa lá é de que a eleição já está ganha”. Isso é um perigo danado! Essa sensação tende a crescer ainda mais depois dos números mostrados agora há pouco pelo Sensus: Dilma abriu dez pontos sobre Serra.

O DataFolha isola-se cada vez mais. Até o Ibope e seu errático presidente já admitem que Dilma é franca favorita. Vox Populi e Sensus, de forma consistente, mostram o mesmo.

A favor de Dilma há mais do que pesquisas:

- um governo que tem muito o que mostrar, com conquistas sociais inegáveis;

- um presidente com 80% de aprovação, e que é o maior líder popular da história brasileira, ao lado de Getúlio Vargas e Luiz Carlos Prestes;

- uma oposição que escolheu o caminho da direita, e preferiu um candidato que não consegue se livrar da marca FHC (privatista, anti-povo, herdeiro de uma era de desemprego, apagão e subserviência na política externa).

Contra Dilma há um fato inquestionável: ela nunca foi testada em campanhas eleitorais. Os tucanos acreditaram na história contada pelos colunistas de araque (Dilma não tem luz própria, não tem experiência). Isso era fábula. Dilma tem história, ajudou a construir o governo Lula. Tem experiência adminstrativa, sim!

Mas não tem experiência eleitoral. Isso é fato.

Quer dizer que Dilma pode se atrapalhar na eleição, nos debates, na campanha de rua? Duvido.

Mas a eleição não está ganha. Do outro lado, há um candidato que não tem nada a perder. Como já escrevi aqui, o pior erro que o PT pode cometer é repetir os tucanos, menosprezando Serra. Ele joga tudo nessa eleição. Derrotado, provavelmente será varrido também do poder em São Paulo (onde Alckmin, que já foi humilhado por Serra, não deve ceder grandes espaços à turma serrista num provável governo estadual tucano).

Serra, a essa altura, luta com a ajuda da mídia. E de sua obsessão pessoal pelo poder. Isso não é pouco. Pode fazer muito estrago.

A minha aposta (com base no que vi de perto, na cobertura de 4 eleições presidenciais, de dentro das redações) é a seguinte: se Serra mantiver alguma chance de vitória até a eleição, parte da velha imprensa pode embarcar em aventuras (dossiês, campanhas terroristas etc). Pra isso, Serra precisa manter 30% dos votos. Com uma campanha de “medo do PT”, bem à direita, ele talvez consiga juntar esses 30%.

Se Dilma ficar com cerca de 40% a 45% dos votos (e já caminha pra isso), Serra precisa que Marina (com Plínio e outros menores) chegue a pelo menos 10% dos votos. Com isso, teria alguma chance de levar a eleição pro segundo turno. Com um empurrão da “geração 68 às avessas” na mídia,essa turma poderia aprontar surpresas na reta final – como em 2006.

Dilma vai passar por ese teste ainda.

Mas se a diferença abrir demais, e chegar aos 20 pontos (isso pode acontecer, porque Lula ainda nem foi pra TV pedir voto), aí a turma vai entregar os pontos. Aí a briga da direita vai ser a seguinte: arrancar de Dilma o compromisso de um governo moderado.

Mais moderado que o de Lula? Sim, é isso que eles querem.

O processo social é que vai definir isso tudo. A esquerda e os movimentos sociais precisam recobrar a capacidade de ação e crítica. Até para disputar a hegemonia em um provável (eu disse provável) governo Dilma, em que a linha política estará muito mais aberta do que na era Lula.

Mas pra isso, repito, antes é preciso vencer a eleição. Que não está ganha!

Por Rodrigo Vianna

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