sábado, 2 de outubro de 2010

Zico deixa o Flamengo


Naquele fatídico dia de junho de 1983, a nação rubro negra amanhecia órfã. O seu mais ilustre filho e o maior craque que já pisou e passeou pelos domínios da gávea, estava de malas prontas. Deixando o clube que o projetou e no qual se realizou como atleta e cidadão, desembarcava na Itália. Havia sido vendido à Udinese. A nação rubro negra chorava lágrimas imensamente sentidas pela partida do seu xodó e maior responsável pelas conquistas do Flamengo. A vida continuou e o tempo se encarregou de curar e cicatrizar todas as feridas que por muito tempo sangraram. Apesar da lacuna jamais preenchida, tudo voltou ao normal.

Hoje, depois de tanto tempo, eis que tudo acontece de novo. Após longa ausência, o craque retorna à sua origem, à sua casa, agora, como dirigente, responsável pelo Departamento de Futebol do clube. Foi muita a euforia, comemoração e celebração. Um presente para a incomensurável e alvorossada torcida. E tudo isso logo após o exa campeonato, alcançado com o título do Brasileirão do ano passado. Estava tudo em nova lua de mel e parecia não mais terminar.

Mas, coisa dos deuses do futebol e também da falta de planejamento característica dos clubes brasileiros, os resultados esperados não vieram e aí, a crise se instalou. E o pior é que manchou com sua tinta pegajosa a imagem sempre ilibada do Galinho de Quintino que, triste, tentava se desviar da saraivada de tiros que vinham de todos os lados. Acabaram por o atingir em seu brio. Eram outros diretores do Flamengo, contrários à Presidente Patrícia Amorim e, consequentemente, ao Zico, que criticavam, infernizavam com comentários maldosos e, inclusive, acusaram dois filhos do Zico de tirarem vantagem financeira na contratação de alguns jogadores para o elenco do Flamengo. Era o que faltava para propagar de vez as chamas. As dúvidas lançadas pelo Conselho Fiscal do Clube atingiram Zico em cheio que, magoado com tamanha trairagem e covardia, decidiu deixar o clube, ainda que com o coração sangrando, tingindo de sangue pisado toda a grandiosa, e honrosa, e poderosa nação rubro negra.

Mantendo a mesma serenidade e postura que o acompanharam pela vida afora, sempre centrada nos bons costumes e nos valores éticos e morais, pediu para sair mais não sem antes deixar o seu legado, fazendo com ombridade uma declaração explicando as razões e motivos que o faziam deixar, naquele momento, o ninho do urubu. A pior e mais dolorida declaração veio logo a seguir, dirigida ao Flamengo; dirigida àqueles que o refutaram por verem os seus interesses feridos pela gestão Zico; dirigida contra o seu próprio coração: “ O Flamengo pode estar me perdendo pra sempre.”

Mais uma vez fomos pegos de surpresa e, novamente, estamos órfãos. A nação rubro negra chora copiosamente. O Zico se foi mais uma vez a nos deixar. A culpa não é sua. É daqueles que com certeza não sabem o que o Zico representa para o Flamengo, para a sua torcida e para o futebol. Daqueles que atuam no submundo do futebol e para lograrem êxito em suas ações, jogam sujo. Daquela estrutura podre que podre faz tudo que a rodeia. Daqueles que nenhuma conquista trouxeram ao clube e que são insensíveis a uma relação de amor ao seu próprio time.

O Zico foi, é e será, para o Flamengo, mais importante do que todos nós juntos, até porque, sem o Zico, a nossa importância enquanto torcida e enquanto time se desfaz. Espero que um dia essa página seja novamente reescrita e com um final feliz; com o Zico de fato retornando à sua raiz, à sua origem, ao seu mundo, ao nosso meio. Que estes Diretores, instaladores e promotores dessa crise possam levar as mãos à cabeça e sentir o quanto dói suas consciências e continuará doendo, enquanto essa grande covardia não for revista, reeditada e resolvida. Vai Galinho. Que Deus guie e proteja seus passos e que a felicidade, o sucesso, a realização e o amor lhe sejam sempre em excesso, por onde andarem e pisarem estes teus pés mágicos que, eternamente, massageiam o nosso coração.

Por Roberval Paulo

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